A Polícia Civil do Piauí concluiu o inquérito sobre o acidente com um ônibus clandestino que resultou na morte de sete pessoas na BR-135, entre os municípios de Corrente e São Gonçalo do Gurgueia, no Sul do estado.
Com base em laudos periciais, depoimentos de testemunhas e análise de imagens internas do ônibus foram indiciadas três pessoas pelos crimes que resultaram no acidente: o motorista do ônibus, L.C.M., e os empresários J.S.N. e C.H.M.N., responsáveis pela gestão do transporte.O caso aconteceu no dia 7 de
janeiro de 2025, quando o veículo, que fazia viagem irregular de Tianguá (CE)
para São Paulo, saiu da pista e caiu de uma ribanceira.
O delegado Diogo Noronha,
responsável pela investigação, afirmou que houve “mais de um fator que deu
causa ao acidente” e que os responsáveis serão indiciados por homicídio doloso,
culposo e exercício ilegal da atividade de transporte interestadual.
“O laudo revelou que o veículo
estava trafegando a 110 km/h no momento do acidente. Trata-se de uma velocidade
totalmente incompatível com a via, que apresentava ondulações, estava molhada e
era período noturno. Ou seja, o cenário exigia cautela redobrada”, explicou o
delegado.
Diogo Noronha destacou ainda que
o motorista, no momento da tragédia, apresentava sinais de exaustão.
“Também foi verificado por meio
do sistema de câmeras internas do ônibus que o motorista apresentava
sonolência, cansaço e fadiga muscular, o que provocou uma reação tardia e a
perda do controle do veículo, resultando no tombamento”, comentou.
Além disso, laudos mecânicos
constataram que alguns pneus estavam carecas e com sulcos desgastados de forma
desigual, o que indica desalinhamento e reduz a aderência com o solo.
Motorista reserva morreu no bagageiro
O motorista reserva, Kaique
Glauber Lúcio de Farias, de 30 anos, morreu dormindo dentro do bagageiro do
ônibus. O delegado classificou o local como “inóspito” e “proibido” para
transporte de pessoas.
“O fato decorreu do mesmo estar
no local inadequado, sem o equipamento de segurança, que é o bagageiro, um
local proibido ao transporte de pessoas, de acordo com a legislação de
trânsito. Ele se deslocou para descansar nesse local exatamente pelo fato de
não ter um local adequado para o motorista reserva descansar durante a viagem.
A empresa também não disponibilizou dois assentos para o mesmo descansar
buscando, com isso, aumentar o lucro da viagem. A negligência da empresa
contribuiu diretamente para a exaustão do motorista titular, fator determinante
para o acidente”, disse o delegado.
Mortes por falta de cinto de
segurança
Seis dos sete mortos estavam sem
cinto de segurança no momento do acidente. Segundo o delegado, todas as vítimas
foram arremessadas para fora do ônibus e morreram prensadas pelo peso do
próprio veículo.
“Foi verificado que todos os
cintos do ônibus estavam em perfeito funcionamento. Os assentos estavam
intactos. O que houve foi a negligência no uso do cinto. Algumas testemunhas
disseram que foram informadas sobre a obrigatoriedade do cinto, outras
afirmaram que não. Isso mostra que não houve um protocolo efetivo por parte da
empresa ou do motorista”, declarou.
Ausência de denúncia
Além das sete vítimas fatais, 19
pessoas ficaram feridas no acidente. No entanto, nenhuma delas manifestou
interesse em representar criminalmente contra os responsáveis, o que impediu a
abertura de processo por lesão corporal, crime que exige representação da
vítima, explicou o delegado.
Quem são as vítimas fatais
Todas as vítimas mortas eram
naturais do Ceará e estavam voltando de visita ao estado natal após as festas
de fim de ano. Os mortos foram:
• Kaique Glauber Lúcio de Farias, 30
anos (motorista reserva)
• Antonio Jackes Pereira de
Vasconcelos, 27 anos
• Emanuel da Cruz Silva Belicaro, 28
anos
• Miguel Oliveira de Freitas, 63
anos
• Graceli Barroso Rufino de Freitas,
58 anos
• Antonia de Maria Castro, 63 anos
• Alexandre Barros Teófilo, 25 anos
Empresa irregular
A empresa responsável pelo
transporte não tinha cadastro ativo na ANTT e não possuía autorização para
operar linhas interestaduais. Segundo o delegado, a companhia tinha autorização
apenas para fretamento, mas operava como se fosse uma linha regular, vendendo
passagens de forma clandestina.
O Ministério Público deve receber
o inquérito nos próximos dias e decidir se oferece denúncia contra os
indiciados. O caso reacende o debate sobre o transporte clandestino de
passageiros e a fiscalização em rodovias federais.
Site: CidadeVerde.Com
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