terça-feira, 13 de setembro de 2022

Serpente em ‘cidade-fantasma’? Como uma lenda sobre Cococi mantém viva a memória de distrito no CE.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1748, 
foi motivo de desentendimento na cidade
Foto: Paulo César Silva/Reprodução

Histórias populares criam áurea misteriosa sobre o território onde habitam apenas duas famílias.

Escrito por Lucas Falconerylucas.falconery@svm.com.br 

O túmulo de um antigo morador de Cococi, distrito de Parambu, a cerca de 465 km de Fortaleza, nunca está intacto. Cobras tentam quebrar o caixão, como dita uma lenda, após o homem ter saído na forma de serpente pela cidade. Entre conversas de calçada, a história popular mantém viva a memória local.

E o que contam essas pessoas? Tudo começou com o desentendimento entre um capitão de uma família importante, que tentou invadir a igreja, e o padre da região. Naquele momento o destino do homem e do território foram traçados. 

“Uma pessoa acaba invadindo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o padre lança uma maldição sobre Cococi por terem profanado o templo. Ele disse que a cidade cresceria como ‘couro no fogo’, ou seja, sempre encolhendo”, explica o historiador Paulo César Silva.

A condenação recaiu sobre o homem no momento da sua morte. Conforme a lenda, seu corpo foi transformado numa serpente que passou a rastejar pelo local. O túmulo, dizem, também é danificado constantemente como se cobras tentassem romper a estrutura.

Informações sobre a lenda foram contadas em reportagens publicadas no Diário do Nordeste sobre as vivências no sertão e o podcast “As Histórias Não Contadas do Cococi”.

 Lenda conta que o túmulo do morador ainda hoje é 
danificado por serpentes
Foto: Paulo César Silva/Reprodução

A antiga cidade foi descrita como lugar de passagem e temida por quem ouve as histórias ecoadas no imaginário popular. Além das serpentes, são contadas lendas sobre vulto que se confunde com sombras das ruínas à noite e voz que grita entre galhos.

"O povo conta que via coisas. Ouvia voz, via vulto. Luz eu já vi, mas num tive medo não", contou ao Diário do Nordeste Maria Clenilda Lô, moradora de uma das duas casas habitadas de Cococi, em 2015. Ainda hoje ela vive no local.

A INTRIGANTE HISTÓRIA DE COCOCI

Cococi, território no Sertão dos Inhamuns, ganhou o status de cidade em 1957, quando tinha cerca de 3.800 moradores numa configuração tradicional de município do interior. Em pouco tempo, em 1970, o cenário já era bem diferente.

O território perdeu o porte de cidade e começou a ficar em ruínas, o que pode ser associado ao mal uso da verba pública do lugar. Em 13 anos, Cococi teve 3 prefeitos. 

Cococi ganhou o noticiário nacional por ter 
apenas duas famílias como habitantes
Foto: Paulo César Silva/Reprodução

Foi nesse período que a história da serpente começou a circular com mais intensidade. O alvo da maldição, inclusive, é de uma família conhecida na região e o assunto gera incômodo, como destaca o historiador.

“Dentro da família, que formou o lugar, essas questões relacionadas ao mito e a ideia de cidade-fantasma são muito rejeitadas. Eles não gostam das tentativas de forçar o apelo do mito para falar em Cococi numa impressão de que não sobrou mais nada”, pontua.

HISTÓRIAS POPULARES E MEMÓRIA

O fim de Cococi como cidade criou a imagem de “lugar no fim do mundo” ou cercada de mistérios. “Nesse processo, há uma série de veiculações que vai tratar como uma cidade fantasma, não por aparecer vultos, mas porque não tinham terras públicas. Tudo pertencia a uma família”, explica.

Isso, na verdade, não repercute com força entre quem vive nas imediações de Cococi. “Não disseminam muito esse conceito ou fazem questão de chamar de cidade-fantasma, que aparecem visagens ou foi amaldiçoado”, analisa Paulo.

Mas o fato é que essas histórias deixam o pequeno distrito cearense no imaginário popular até mesmo de outros lugares do País.

A cidade que já foi pujante, mas hoje está em ruínas, como define, atraiu o interesse de Paulo para entender o que aconteceu no lugar. “Realmente olham para Cococi como cidade fantasma. Inclusive, exatamente isso me despertou a curiosidade de conhecer e escrever sobre a cidade”, frisa.

(DIÁRIO DO NORDESTE)

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